Nesta quinta-feira (5), o Dia da Amazônia é marcado por discussões sobre a vital importância da preservação da maior floresta tropical do planeta. No entanto, a celebração é ofuscada pelos graves problemas enfrentados pela região, como o aumento das queimadas e a severa seca dos rios, em meio a uma crise ambiental.
De acordo com dados do programada BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), agosto de 2024 registrou 38.266 focos de queimada na Amazônia, o maior número desde 2005, quando foram contabilizados 63.764 focos.
Os focos de queimadas começaram a afetar as capitais da região. No último mês, Manaus ficou coberta por fumaça por pelo menos 7 dias, devido a uma massa de ar do Sudoeste do país. Esta massa alcançou o sul do Amazonas e alterou a direção dos ventos, transportando a fumaça dos incêndios florestais até a região metropolitana do estado.
A capital acreana, Rio Branco, amanheceu na segunda-feira (2), encoberta por uma nuvem de poluição e a qualidade do ar alcançou o nível ‘perigoso’, segundo monitoramento da IQAir.
O problema se estendeu para outras capitais do país. Na quarta-feira (4), Belo Horizonte amanheceu coberta por fumaça pelo terceiro dia consecutivo. No último mês, o céu ficou cinza em cidades da Grande São Paulo devido à fumaça provocada na Amazônia. O fenômeno também chegou ao Sul do Brasil na terça-feira (3)
Com mais de 1,9 mil focos de incêndio em agosto no Acre, de acordo com o monitoramento por satélite do Inpe, o Estado decretou emergência em saúde pública no final de agosto.
Parte do bioma está encoberto por uma mancha de fogo de quase 500 quilômetros de extensão, conforme captado pelo satélite europeu Corpenicus. O problema afeta os estados do Amazonas, Acre, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e agora o Pará, formando um verdadeiro ‘cinturão do fogo’.
Seca severa
Mas as queimadas e fumaça que podem ser vistas nas cidades não são os únicos problemas ambientais vividos na região. A seca dos rios também já começou a afetar a população que sofre a dificuldade de locomoção.
No Amazonas, o cenário este ano é crítico. Cidades têm dificuldades de receber insumos, há aumento no preço de produtos e comunidades indígenas e ribeirinhas podem ficar isoladas.
Todos os 62 municípios do Amazonas foram declarados em estado de emergência ambiental e de saúde pública devido o cenário enfrentado. A seca dos rios no estado, em 2024, afeta mais de 330 mil pessoas, segundo o governo.
Um dos rios que mais sofre os impactos até então é o Solimões. No fim de agosto, a região do Alto Solimões, localizada na fronteira do estado com Colômbia e Peru, alcançou o nível mais baixo já registrado na história.
Agricultores, pescadores e a população que depende do transporte fluvial em Tabatinga, no interior do Amazonas, estão enfrentando diretamente a crise, já que o município fica na região mais afetada.
Com a falta de chuvas e o nível cada vez mais baixo de rios, lagos e igarapés, a agricultora Maria Lenise, que vive em Tabatinga, teme pelo futuro de suas plantações. Ela precisa vender o que ainda resta antes que tudo se perca.
“A vida na minha comunidade está difícil. Não chove há três meses e nossas plantações estão morrendo. Esta seca está acabando com a gente”, lamentou.
Agricultora Maria Lenise teme pelo pior em suas plantações devido seca do Rio Solimões.
O pescador Benedito Catique, que atua na região há 42 anos, afirma nunca ter visto uma seca tão severa como a deste ano.
“Nunca vi uma seca assim no nosso Amazonas. Está realmente seco. O rio está quase seco, os lagos estão secando, e temos que caminhar mais de 40 minutos para conseguir pescar”, relatou.
De acordo com o SGB, com a previsão de chuvas abaixo do esperado para as próximas duas semanas, o cenário no Alto Solimões pode se agravar ainda mais.
Cenário preocupa especialista
Ao g1, o ambientalista Erivaldo Cavalcanti alertou que todos os sinais indicam que a seca que o Amazonas enfrenta este ano deve superar a do mesmo período em 2023. Em várias áreas da Amazônia, os rios atingiram os níveis mais baixos em mais de um século, causando graves impactos nas comunidades ribeirinhas.
“Como vamos comemorar nossa independência administrativa? Com queimadas e incêndios, que provocam problemas respiratórios e diversas doenças, reduzindo a expectativa de vida. Ou seja, a vida dos amazonenses está sendo encurtada devido à inalação dessa fumaça devastadora”, destacou o especialista.
Sobre o cenário das queimadas, o especialista ressaltou a necessidade urgente de uma fiscalização mais eficaz e de uma atuação mais robusta dos órgãos responsáveis para reduzir o número de focos e mitigar os impactos na população.
“É crucial uma intervenção decisiva do poder público, com o apoio da sociedade civil e a aplicação rigorosa da lei, seja por meio de multas ou detenções. O número de fiscais precisa ser ampliado, e isso não se limita a pessoas físicas — pode incluir drones e satélites. Embora o mapeamento já seja feito pelos órgãos federais e estaduais, falta uma intervenção firme, incluindo a participação de instituições coercitivas”, afirmou Cavalcanti.
Para o especialista, o Dia da Amazônia representa uma oportunidade para discutir a crise ambiental que a região enfrenta e oferecer esperança para um futuro melhor para os habitantes da Amazônia.
“É um momento para celebrar a autonomia administrativa do Amazonas e, ao mesmo tempo, para destacar a urgência da situação. Precisamos colocar essa questão em evidência e buscar soluções rápidas para reduzir e eventualmente acabar com a crise”, concluiu.
g1
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