sexta-feira, 23 de julho de 2021

Braga Netto nega ter condicionado as eleições de 2022 ao voto impresso; autoridades dos Três Poderes reagem

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Autoridades dos Três Poderes reagiram nesta quinta-feira (22) a uma reportagem do jornal “O Estado de S.Paulo” sobre um recado que o ministro da Defesa, Braga Netto, teria enviado ao presidente da Câmara, Arthur Lira. O jornal afirma que o recado foi de que, sem voto impresso, não haveria eleições em 2022. O ministro nega.
A reportagem afirma que o ministro da Defesa condicionou a eleição do ano que vem ao voto impresso. O jornal “O Estado de S.Paulo” relata que, no dia 8 de julho, o presidente da Câmara, Arthur Lira, do Progressistas, recebeu um duro recado do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, por meio de um importante interlocutor político. O general pediu para comunicar, a quem interessasse, que não haveria eleições em 2022 se não houvesse voto impresso.

No mesmo dia em que a conversa teria ocorrido, o presidente Jair Bolsonaro afirmou a apoiadores no Palácio da Alvorada que ou haverá voto impresso em 2022, ou não haverá eleição.

De acordo com o jornal, ao receber o recado, a portas fechadas, Lira disse a um seleto grupo que via aquele momento com muita preocupação porque a situação era "gravíssima". A reportagem diz que Lira considerou o recado dado por Braga Netto como uma ameaça de golpe e procurou Bolsonaro. Teve uma longa conversa com ele, no Palácio da Alvorada, em que disse a Bolsonaro que não contasse com ele para qualquer ato de ruptura institucional, e que não admitiria golpe.

Assim que chegou ao Ministério da Defesa, pela manhã, Braga Netto foi questionado sobre o assunto.

Repórter: “Ministro, bom dia. Tudo bem? Explica essa matéria do ‘Estadão’?”

Braga Netto: “Invenção.”
O ministro participou, minutos depois, de um evento no ministério com a presença do presidente Jair Bolsonaro e voltou a negar que tenha feito ameaça.

“Hoje foi publicada uma reportagem na imprensa que atribui a mim mensagens tentando criar uma narrativa sobre ameaças feitas por interlocutores a presidente de outro Poder. O ministro da Defesa não se comunica com os presidentes dos poderes por meio de interlocutores. Trata-se de mais uma desinformação que gera instabilidade entre os Poderes da República em um momento que exige a união nacional. O Ministério da Defesa reitera que as Forças Armadas atuam sempre e sempre atuarão dentro dos limites previstos na Constituição A Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira são instituições nacionais, regulares e permanentes, comprometidas com a sociedade, com a estabilidade institucional do país e com a manutenção da democracia e da liberdade do povo brasileiro. Acredito que todo cidadão deseja a maior transparência e legitimidade no processo de escolha de seus representantes no Executivo e no Legislativo em todas as instâncias. A discussão sobre o voto eletrônico auditável por meio de comprovante impresso é legítima, defendida pelo governo federal, e está sendo analisada pelo parlamento brasileiro, a quem compete decidir sobre o tema”, disse Braga Netto.

A reportagem gerou forte reação em Brasília. Autoridades dos Três Poderes se manifestaram. O presidente da Câmara disse aos repórteres Valdo Cruz e Ana Flor, da GloboNews, que a reportagem era mentira.
Mas, depois, em uma rede social Arthur Lira afirmou apenas: “A despeito do que sai ou não na imprensa, o fato é: o brasileiro quer vacina, quer trabalho e vai julgar seus representantes em outubro do ano que vem através do voto popular, secreto e soberano. As últimas decisões do governo foram pelo reconhecimento da política e da articulação como único meio de fazer o país avançar”.

O ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso, que é presidente do Tribunal Superior Eleitoral, disse nas redes sociais que conversou com o ministro da Defesa e com o presidente da Câmara e ambos desmentiram, enfaticamente, qualquer episódio de ameaça às eleições.

“Temos uma Constituição em vigor, instituições funcionando, imprensa livre e sociedade consciente e mobilizada em favor da democracia”, afirmou Barroso.

Também numa rede social, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, do Democratas, escreveu que “decisões sobre o sistema político-eleitoral, formas de financiamento de campanhas, voto eletrônico ou impresso, entre outros temas, cabem ao Congresso Nacional, a partir do debate próprio do processo legislativo e com respeito às divergências e à vontade da maioria. Seja qual for o modelo, a realização de eleições periódicas, inclusive em 2022, não está em discussão. Isso é inegociável. Elas irão acontecer, pois são a expressão mais pura da soberania do povo. Sem elas não há democracia e o país não admite retrocessos”.
No início da tarde, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que o Brasil terá eleições, mesmo sem voto impresso.

Repórter: “Mesmo que não faça o voto impresso para essa eleição?”

Mourão: “É lógico, isso aí.”
Repórter: “Se continuar do jeito que está, vai ter eleição?”

Mourão: “É lógico que vai ter eleição, quem é que vai proibir eleição no Brasil? Por favor gente, isso aí, nós não somos república de banana.”

Em uma rede social, o diretor de Jornalismo do Grupo Estado, reafirmou o conteúdo publicado pelo jornal. Disse que, diante das diversas reações, considera importante reafirmar na íntegra o teor da reportagem publicada nesta quinta (22) no “Estadão” sobre os diálogos do ministro da Defesa e que o compromisso inabalável do “Estadão” segue sendo a qualidade jornalística e o respeito ao estado de direito.

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