
A dor foi tanta que ela não resistiu. Desde que teve seus amados animais silvestres levados pela Ibama, fato ocorrido no dia 26 de novembro deste ano, data do seu aniversário, a idosa Nicézia Muniz Ferreira, de 92 anos, perdeu a vontade de viver (lembrar matéria).
Ela dizia que não ia resistir sem os seus bichinhos e não resistiu mesmo. Por volta das 16 horas deste sábado, 27 de dezembro, foi acometida de um mal súbito, provavelmente um infarto, e expirou. Morreu de amor por aquilo que lhe arrebataram.
A saudade era intensa, muito maior que a tal legislação ambiental, bem mais que a incompreensão dos homens. Decerto os bichos estão sentindo sua falta, em saudade plena, sem as mínimas condições de readaptação à vida selvagem. Alguns deles tinham mais de 50 anos de convivência com a sua tutora.

Nicézia era uma das cinco filhas do lendário Edizio Muniz Ferreira, “O Rei do Cacau”, com dona Anézia. Ela deixa uma filha: Nicia Miller e três netos, Yuri, Nicolle e Thiago, além 56 animais que foram arrebatados pelo Ibama e centenas de outros que povoavam a Fazenda Morro Verde, na zona rural de Ibirataia, e contavam com sua constante proteção.
Não permitia a caça ou qualquer tipo de maltrato aos bichos. Muitos deles a reconheciam e a saudavam em gorjeios, silvos, vozes da mata, suaves reverências à benemérita. No extenso lago, para onde dirigiu seu último olhar de contemplação, os jacarés sentiram a perda de quem os alimentava e chamava a cada manhã.
Nicezia pediu que quando morresse escrevessem na sua lápide a seguinte frase: “A mulher que se compadecia das sedes das formigas”. (José Américo Castro/Giro Ipiaú)
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