segunda-feira, 9 de junho de 2025

Como cachês milionários para atrações musicais alheias ao estilo estão matando a tradição das festas juninas

 

Divulgação / Agência Brasil

As festas juninas são uma tradição surgida no Brasil no século 16, trazidas de Portugal e aqui aclimatadas de forma espontânea ao embalo de comidas típicas, fogueiras, fogos de artifício, quadrilhas de dança tradicional e música, muita música.

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Antes de qualquer conclusão a respeito da inevitável modernização de qualquer movimento, vale a pena salientar que festa junina é uma tradição cultural típica da região nordeste, com seus ritmos musicais tradicionais, a exemplo do forró, do baião, do xote, do coco, do xaxado, do arrasta-pé e outras denominações semelhantes. Não deveria servir para evento político ou com fins meramente lucrativos.

Em 2023, o presidente em exercício Geraldo Alckmin sancionou a Lei 14.555/23, que reconhece as festas juninas como uma manifestação da cultura nacional.

No mesmo ano outro projeto foi promulgado pela Câmara dos Deputados com o apoio de artistas baianos: a Lei Luiz Gonzaga, 3083/2023, projeto de autoria do cantor Armandinho, da banda Fulô de Mandacaru, de Caruaru, de Pernambuco, apresentado pelo deputado pernambucano Fernando Rodolfo (PL), determinando que o forró deve compor 80% da grade de atração dos festejos, ficando 20% para os demais estilos.

Ainda assim, nem por força de lei o palco para o verdadeiro som do São João é respeitado.

Por motivos que merecem uma análise mais aprofundada, os festejos juninos nos últimos 20 anos tem cedido espaço para iniciativas que visam buscar apoio político popular, arrecadação milionária por parte de grupos estranhos às tradições juninas e pessoas interessadas em aumentar patrimônio pessoal sem ter qualquer preocupação de preservar uma tradição cultural centenária.

Enquanto o São João e o São Pedro representavam o encontro do homem do campo com a cultura urbana, a tradição se popularizou e ganhou a simpatia de todos os setores da sociedade, despertando a cobiça de espertos que fizeram seus planos para lucrar muito com esta popularidade.

Atualmente , a medida em que a população mais atenta aos fatos observa com assombro o derrame  de dinheiro público em cachês de músicos anômalos à cultura junina (colocando em segundo plano os verdadeiros artistas representativos do forró), os festejos juninos, tais como existem no imaginário popular, só podem ser encontrados de fato nas propagandas de TV e raros arraiás nos cantos mais distantes, último foco de resistência de uma cultura que agoniza.

 

Na prática, essas festas de largo se transformam a cada ano em palco para DJs, duplas de sertanejo universitário e músicos de arrocha, que da Bahia arrancam preciosos subsídios cada vez mais em falta para obras em saúde, educação e segurança.

Para além da mera crítica, a sugestão maior ficaria por uma diminuição dos gastos miliardários e da propaganda em prol da preservação deste patrimônio cultural, conforme está previsto em lei. Quem viaja a Bahia para ver o São João não deixaria de vir por falta de um show do DJ Alok.

Afinal de contas, São João não é para ser Carnaval porque, se assim fosse, não seria necessário que existisse o arrasta-pé. Bastaria fazer uma festa de momo em uma segunda data do ano.

O sucesso do São João não é para ser contado em milhares de participantes em uma praça aberta, mas sim no calor da fogueira em cada coração.

Além do mais, se outros estilos precisam ser apreciados pelo grande público, continuariam a existir outras oportunidades, como os festejos de réveillon, Natal, feiras populares e aniversários dos municípios.

Cada coisa no seu lugar… e viva Luiz Gonzaga.

Ipiaú Online/ Celso Rommel

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